Quando Regina Duarte volta a encarnar Maria de Fátima Accioly na reprise da novela Vale Tudo, a Rede Globo já sente a batida acelerada do coração dos telespectadores. A partir de , os capítulos diários (de segunda a sábado, às 17h15) trazem à tona novos desdobramentos da trama que mistura corrupção política, ambição desmedida e drama familiar, tudo ambientado na efervescente Rio de Janeiro dos anos 1980. O que antes era simples entretenimento se transforma em um espelho retórico para os debates atuais sobre ética nos negócios e no poder.
Contexto histórico da novela Vale Tudo
Criada por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, Vale Tudo estreou em 16 de maio de 1988 e encerrou em 6 de janeiro de 1989, registrando 209 capítulos. Na época, a trama quebrou recordes de audiência ao expor, de forma dramatizada, a convergência entre poder econômico e político que marcava o Brasil pós‑ditadura. Hoje, quase quarenta anos depois, a novela volta à grade vespertina como um lembrete de que as mazelas do passado ainda ecoam nos corredores do Palácio do Planalto e nos arranha‑céus da Zona Sul.
Desenvolvimentos da semana (06 a 11 de outubro)
06/10 – O jogo de Raquel
Glória Pires, no papel de Raquel Accioly, intensifica sua escalada social ao manipular investidores influentes. Em uma cena no elegante hotel Copacabana Palace, ela promete “um futuro de ouro” em troca de favores que ultrapassam a linha entre negócio e chantagem. Enquanto isso, Renata Sorrah – Odete Roitman – aparece em reuniões corporativas, ampliando sua rede de aliados no governo federal.
07/10 – As consequências familiares
A irmã de Raquel, Solange (interpretada por Lídia Brondi), enfrenta uma crise de liquidez. A diferença entre a vida luxuosa de Raquel e a realidade austera de Solange evidencia o abismo de classe que a novela explora. Antonio Fagundes, como Ivan Meirelles, lança um projeto de energia sustentável que serve de contraponto moral aos esquemas escusos.
08/10 – Confrontos de valores
Beatriz Segall, como Perpétua do Socorro, oferece conselhos que lembram provérbios da vila: “Quem planta vento colhe tempestade”. Seus diálogos com a jovem geração mostram que, mesmo nas trevas da corrupção, ainda existem vozes que buscam a redenção. A trama secundária de Afonso Roitman (Cássio Gabus Mendes) revela que a própria família Roitman não está imune ao veneno da ambição.
09/10 – Investigação jornalística
César (interpretado por Carlos Alberto Riccelli) dirige uma equipe de reportagem que desenterra contratos milionários em cruzados, a moeda da época. Em uma sequência de escritórios do centro do Rio, vemos papéis perfumados com cifras que fariam qualquer auditor perder o sono.
10/10 – Repercussões sociais
Raquel, ainda mais ousada, usa sua beleza como moeda de troca em lounges de Ipanema, garantindo apoio a projetos de infraestrutura que nunca verão a luz. Maria de Fátima, por sua vez, encara uma encruzilhada moral: proteger a filha ou denunciar o caminho sombrio que ela trilha? O dilema se torna palpável quando a câmera foca nos olhos marejados de Regina Duarte, simbolizando a luta de muitas mães brasileiras.
11/10 – O clímax da semana
Odete Roitman consolida um acordo com um ministro ainda não revelado, selando sua posição como a verdadeira “rainha do poder”. Ivan Meirelles sente a pressão de ingressar nas mesmas práticas que tanto rejeita, criando um suspense que promete dividir a audiência nas próximas semanas. A direção de arte, comandada por Luiz Fernando Carvalho, encerra a semana com um panorama do Rio que mescla favelas, praias e mansões, reforçando a mensagem de que a corrupção permeia todas as camadas.
Reações do público e críticas
Nas primeiras 24 horas da reprise, a Globo registrou um aumento de 12 % nos índices de audiência comparado ao mesmo horário da novela “Chocolate com Pimenta”. Nas redes sociais, hashtags como #ValeTudo2025 e #RaquelAcima decolaram, gerando debates sobre meritocracia e impunidade. Críticos da TV, como o jornalista Leonardo Machado, elogiaram a fidelidade dos figurinos (Ney Latorraca e Beth Filipecki) e criticaram a “exaltação” de personagens femininas poderosas que, segundo ele, ainda refletem estereótipos patriarcais.

Impacto cultural e relevância atual
A trilha sonora, que inclui “Brasil” de Cazuza e “De Primeira Grandeza” de Belchior, reforça a nostalgia dos anos 80, ao mesmo tempo em que cria pontes para as discussões contemporâneas sobre corrupção. Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro apontam que a série pode ser usada como material didático em disciplinas de história contemporânea, pois ilustra, de forma dramatizada, as consequências de regimes de “vale tudo”.
Próximos passos da reprise
Os roteiristas confirmaram que, a partir de 12 de outubro, a trama seguirá para um ponto de virada onde Ivan Meirelles poderá se tornar o “herói inesperado”. Também foi divulgado que novos personagens inspirados em figuras reais do cenário político dos anos 2000 aparecerão, ampliando ainda mais o debate sobre ética e poder.
- Data de início da reprise: 06/10/2025
- Horário: 17h15, de segunda a sábado
- Elenco principal: Regina Duarte, Glória Pires, Renata Sorrah, Antonio Fagundes, Reginaldo Faria
- Direção geral: Luiz Fernando Carvalho
- Local de gravação: Estúdios da Globo, Rio de Janeiro
Perguntas Frequentes
Como a trama de Vale Tudo se relaciona com a política atual?
Embora se passe nos anos 80, a novela retrata esquemas de financiamento de campanha e compra de favores que ainda são frequentes na política brasileira. Analistas apontam paralelos entre o “carrasco” de Odete Roitman e recentes escândalos de lobby insinuados no Congresso.
Qual a importância da personagem Raquel Accioly para a narrativa?
Raquel simboliza a nova elite que usa charme e inteligência para infiltrar-se nas altas esferas. Seu arco demonstra como a ambição pode corroer laços familiares, servindo de alerta para quem acredita que o fim justifica os meios.
Por que a Globo decidiu inserir Vale Tudo no horário das 17h15?
O canal busca equilibrar a grade vespertina com conteúdo de qualidade que atraia tanto o público mais jovem quanto o 30‑40% de telespectadores nostálgicos. A faixa das 17h15 tem histórico de boa performance quando programas de grande apelo cultural são exibidos.
Quais são as expectativas de audiência para as próximas semanas?
Especialistas projetam que a audiência se estabilize entre 15 % e 18 % dos households, principalmente se a trama mantiver o ritmo de revelações e conflitos morais. A inserção de novos personagens políticos pode impulsionar ainda mais o interesse.
Como a direção de arte contribui para a autenticidade da série?
Luiz Fernando Carvalho recriou fielmente bairros como Lapa e Santa Teresa, além de luxuosas mansões de Copacabana. Cada detalhe – da roupa de cintura alta aos modelos de carro da época – foi pesquisado em arquivos da época, garantindo que o espectador sente o cheiro da cidade dos anos 80.
9 Comentários
Luciano Hejlesen
A trama expõe a intersecção entre poder político e capital privado, algo que a elite insiste em mascarar 😏💼
Marty Sauro
É fascinante ver como a Globo transforma intriga familiar em lição de moral, como se fosse um tutorial de ética para a massa 🤔. Mas vamos ser reais, todo mundo já viu esse script mil vezes.
Aline de Vries
A personagem Raquel mostra como a ambição destrui laços familiares.
Wellington silva
Ao analisar a evolução narrativa de Vale Tudo, percebemos que o roteiro funciona como um micro‑cosmo da economia informal das décadas de 80. Primeiro, a linguagem dos personagens incorpora termos como “coroa” e “caiçara”, demonstrando a codificação sociolinguística da época. Em seguida, o uso de jargões corporativos - “benchmark”, “stakeholder”, “synergy” - cria uma ponte entre o universo da novela e a realpolitik empresarial. Essa mescla de vocabulário simples e técnico reforça a ideia de que a corrupção não é exclusividade de um estrato, mas um fenômeno sistêmico.
Além do discurso, a direção de arte cria um cenário que serve de laboratório visual: a representação fiel das fachadas de Copacabana juxtaposta a favela de Lapa ilustra a dualidade de poder e marginalização.
O arco de Raquel Accioly segue um padrão clássico de anti‑heroína, onde o charme é capital social. Sua trajetória ecoa teorias de capital cultural de Bourdieu, transformando charme em moeda de troca nos círculos de elite.
Do ponto de vista narrativo, o personagem Ivan Meirelles funciona como um "contraponto moral", trazendo à tona discussões sobre a responsabilidade ética dos empreendedores.
Vale lembrar que a música de fundo, como “Brasil” de Cazuza, atua como camada extra de crítica social, adicionando uma lente melódica à dramaturgia.
Em termos de roteiro, a série utiliza flashbacks como ferramenta para descompactar a história de família, permitindo ao espectador compreender motivação subjacente dos vilões.
Do ponto de vista da produção, o uso de câmeras handheld nas cenas de investigação cria um clima de imersão, aproximando o público das pressões jornalísticas.
Essas escolhas técnicas sinalizam uma intenção deliberada de transformar entretenimento em ferramenta didática.
Portanto, a novela não apenas revive nostalgia, mas funciona como um estudo de caso ao vivo para estudantes de ciências políticas e administração.
É imprescindível observar como os diálogos incorporam conceitos de compliance antes mesmo de o termo se tornar corrente no mundo corporativo.
Em síntese, Vale Tudo serve como espelho multifacetado: reflete tanto as mazelas históricas quanto os padrões atuais de corrupção institucionalizada.
Para quem acompanha, a série oferece um convite ao pensamento crítico, estimulando debates acadêmicos e cotidianos.
Assim, a trama transcende o mero drama televisivo, posicionando‑se como recurso pedagógico para analisar estruturas de poder.
Mauro Rossato
O cenário da Lapa tá tão vivo que dá vontade de se jogar na rua, entre cores, música e aquele cheirinho de cafezinho na esquina, sem nem precisar de emoji.
Tatianne Bezerra
Galera, vamos cobrar mais da trama! Não dá pra ficar de braços cruzados enquanto a novela mostra que a luta contra a corrupção precisa de energia e atitude! Levanta aí, compartilha e faz barulho!
Hilda Brito
Se todo mundo tá elogiando a produção, eu pergunto: será que o roteiro não tá simplesmente reciclando o mesmo discurso de moralidade da década passada? Acho que a gente merece algo menos previsível.
edson rufino de souza
Olha, enquanto a Globo mostra a elite corrupta, ninguém fala das cabinas secretas onde decisões globais são tomadas, os caras que puxam as cordas por trás das câmeras. Essa novela pode ser um disfarce pra cortar a atenção da gente.
Bruna Boo
Confesso que a série tá meio cansativa, os mesmos tropos de poder e traição se repetem, mas ainda dá pra reconhecer que traz um ponto válido sobre a impunidade.