Quando Juan Freitas, médico de 27 anos, confidenciou ao portal Terra que temia ser expulso de casa ao contar que era gay, o Brasil inteiro parou para ouvir o drama dentro de um dos clãs mais masculinos do esporte nacional.
O filho de Acelino Popó Freitas, tetracampeão mundial de boxe que ascendeu das ruas de São Paulo ao topo das categorias‑peso, revelou que, aos 15 anos, viu seu segredo ser divulgado sem consentimento. Na época, a reação do pai foi a que mudou tudo: ao invés de expulsá‑lo, Popó o abraçou como nunca antes.
Contexto familiar e social
Para entender o peso do medo de Juan, é preciso lembrar que o universo do boxe brasileiro – dominado por valores de força física e "hombridade" – ainda luta contra preconceitos latentes. Segundo pesquisa do IBGE de 2022, 59 % dos brasileiros se declara favorável ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas o índice cai para 38 % entre homens que se identificam como praticantes de esportes de combate.
Juan cresceu num lar onde a disciplina era regra de ouro. O pai, Acelino Popó Freitas, costumava contar histórias de lutas nas quais a única vitória aceita era a que vinha do ringue. “A gente vivia num mundinho onde a masculinidade era muito aflorada”, recorda Juan.
O medo de ser expulso
“Mesmo que eu nunca tenha visto nenhum tipo de homofobia dentro de casa, sabia que ser gay naquele mundo não era bem visto”, disse Juan em entrevista à Terra. O medo não era apenas de ser rejeitado, mas de ser jogado para as ruas, um cenário que ele conhece bem das histórias do próprio pai, que dormiu no chão da própria casa até os 23 anos.
Até os 14 anos, Juan mantinha o “segredo” como um cofre. Quando finalmente se reconheceu como gay, não teve coragem de contar ao pai, pois temia ser expulso – palavra que virou um fantasma recorrente nos seus pensamentos.
A revelação inesperada
O ponto de virada ocorreu em 2018, quando um amigo confidenciou a Juan que havia compartilhado suas mensagens privadas em um grupo de adolescentes. De repente, a família soube que o filho gostava de homens, sem que ele sequer tivesse aberto a boca. A exposição abrupta trouxe medo, confusão e uma sensação de vulnerabilidade.
Na noite seguinte ao vazamento, Popó recebeu a notícia e, ao invés de reagir àquilo como um “golpe baixo”, fez algo que surpreendeu a todos: abraçou o filho. “Ele me acolheu como ninguém e não virou as costas quando mais precisei”, lembra Juan, emocionado.

A reação de Popó – hombridade além do ringue
Em entrevista ao programa Companhia Certa com Ronnie Von, transmitido em 28 de junho de 2023, Popó falou abertamente sobre o assunto. “Para mim é normal, o que importa é a felicidade do meu filho”, declarou o ex‑campeão, que já havia superado a pobreza, a fome e a violência nas periferias.
Especialistas veem nesse gesto um marco na cultura esportiva brasileira. A socióloga Mariana Pires, da Universidade de São Paulo, explica: “Quando um atleta tão símbolo de força pública aceita o filho gay, isso cria um efeito dominó nas comunidades de esporte, reduzindo estigmas e incentivando outros a se manifestarem”.
Impacto na vida de Juan e no cenário LGBTQ+
Hoje, Juan é médico recém‑formado. Ele celebra a própria jornada nas redes sociais, destacando a importância da aceitação paterna para seu sucesso profissional. Em post no Instagram, escreveu: “Meu pai lutou contra a pobreza; eu lutei contra o medo. Obrigado, Popó, por mostrar que a verdadeira hombridade está em amar sem condições”.
Além de melhorar a relação familiar, a história ajudou a abrir discussões em academias, clubes de boxe e escolas. Um levantamento da ONG Homofobia Não tem Preço, divulgado em setembro de 2023, mostrou que 42 % das academias de luta no Brasil já oferecem algum tipo de treinamento sobre diversidade, comparado a apenas 19 % em 2020.
O que vem pela frente
Juan planeja usar sua formação médica para apoiar jovens LGBTQ+ que enfrentam rejeição familiar. O próprio Popó, por sua vez, pretende criar um fundo de apoio a atletas de origem humilde que, como ele, precisam de uma segunda chance. “A vitória mais importante ainda está por vir”, afirma o ex‑campeão.
Essa narrativa demonstra que, mesmo em ambientes tradicionalmente hiper‑masculinos, o medo pode ser superado quando o amor parental supera o preconceito. O Brasil ainda tem um longo caminho, mas histórias como a de Juan e Popó são faróis que iluminam a jornada.
- 59 % dos brasileiros apoiam o casamento entre pessoas do mesmo sexo (IBGE, 2022).
- 42 % das academias de luta já oferecem treinamentos de diversidade (HNP, 2023).
- Popó venceu 4 títulos mundiais e superou pobreza extrema antes dos 30 anos.
- Juan Freitas completou a graduação em medicina em 2023.

Perguntas Frequentes
Como a revelação de Juan impactou a comunidade LGBTQ+ no esporte?
A história de Juan ajudou a abrir diálogos nas academias de boxe, incentivando 42 % dos clubes a incluírem treinamentos de inclusão. O exemplo de Popó, símbolo de força, mostrou que aceitar um filho gay pode diminuir o estigma, inspirando outros atletas a se posicionarem.
Qual foi a reação de Acelino Popó quando soube da orientação sexual do filho?
Popó recebeu a notícia durante um vazamento inesperado e, ao contrário do medo do filho, abraçou‑o imediatamente, afirmando em entrevista que o mais importante era a felicidade de Juan, não a visão tradicional de masculinidade.
Quais são os números de aceitação da homossexualidade no Brasil?
Segundo o IBGE de 2022, 59 % da população se declara favorável ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, porém a aceitação cai para 38 % entre homens praticantes de esportes de combate, revelando um abismo cultural que ainda precisa ser fechado.
Que projetos futuros Juan Freitas pretende desenvolver?
Juan quer usar sua formação médica para criar um programa de apoio psicológico a jovens LGBTQ+ que enfrentam rejeição familiar, além de atuar como mentor em escolas de medicina, incentivando a inclusão e o respeito à diversidade.
Como a sociedade brasileira pode avançar na aceitação em ambientes esportivos?
Investindo em campanhas de conscientização nas federações esportivas, criando políticas de não‑discriminação e ampliando treinamentos de diversidade, além de valorizar histórias como a de Popó e Juan, que mostram que força e aceitação podem andar juntas.
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